Arianrhod é a grande Deusa Galesa.
O seu nome significa roda de prata, ela é a Deusa da fertilidade, do nascimento, da iniciação e da reencarnação...
E é ela que representa a carta da Roda da Fortuna...
E a Roda da Fortuna, é a experiência de vida...são as nossas escolhas, orientadas pela nossa intuição...
São todas as possibilidades e caminhos que escolhemos seguir para alcançar os nossos objetivos...
É plantar, semear com discernimento e sabedoria para depois colher os frutos desse plantio...
E ela vem passar os seus ensinamentos para todos os signos, através desta pequena história, que retirei das escritas de meu Mestre e Mago:
"A Roda da Vida"
"Cansado e abatido, o viajante chegou
finalmente ao que parecia um entroncamento de caminhos. À sua frente abria-se
um amplo espaço ao qual chegavam outras três estradas. O lugar era bonito,
tinha árvores que davam sombra e uma fonte com água fresca. A primeira coisa
que fez foi beber. Muito. A jornada tinha sido esgotante. Como todas as
jornadas nos últimos tempos...
Após
beber, decidiu descansar. Deitou à sombra de uma árvore e um pouco depois
dormiu.
Quando
acordou já era noite. A raiva tomou conta dele: não tinha alimento e não podia
continuar na escuridão. Teria que pernoitar ai, com fome. Ainda bem que não
faltava água. Então viu a fogueira.
Um
homem estava sentado frente a um bonito fogo, cozinhando algo. Era de idade
indefinida e estava bem vestido. Não parecia perigoso, mas o viajante era
desconfiado: já tinha sido pego por ladrões antes. E mesmo carregando pouca
coisa, seria terrível ser assaltado. Enfim, também não podia permanecer onde
estava, assim que decidiu ir até a fogueira.
-Boa
noite, viajante- respondeu o homem, com um sorrido. -Está com fome?
Estava,
era inútil negar. Disse sim com a cabeça e o homem fez um gesto para ele se
sentar. O viajante se acomodou frente ao fogo. O homem estendeu a mão com um
caço de sopa, que o viajante consumiu rapidamente. Jantaram em silêncio. Ao
terminar lavaram tudo na fonte e voltaram para o fogo.
-A
viagem está difícil?- perguntou o homem. O viajante assentiu.
-Sim. Parece que nunca acaba- ficou um
momento em silêncio. Tinha vergonha de dizer que estava perdido. Fazia tempo
que não achava o caminho certo. A cada entroncamento rezava para pegar o
caminho correto que o levasse ao seu destino, mas isso não acontecia. Talvez
fosse hora de pedir ajuda.
-Acho
que estou perdido- disse o viajante. O outro fez sinal que tinha entendido e
mexeu um pouco no fogo, que começou a queimar mais vivamente. A temperatura
melhorou.
-Onde
está indo?- quis saber.
-A
algum lugar bonito, onde possa ser feliz- disse o viajante. O homem fitou-o em
silêncio.
-Isso
é um pouco vago. No seu caso eu diria que qualquer caminho serve, pois
eventualmente você vai chegar a algum lugar que considere bonito... e talvez
possa se convencer que é feliz...
O
viajante ficou em silêncio. Não tinha pensado nisso. Ultimamente ia de cidade
em cidade, de relacionamento em relacionamento, de emprego em emprego e nunca
achava que seu atual estado fosse o ideal. Sempre esperava mais, a eterna
esperança e expectativa de que o próximo será melhor, que a felicidade está à
volta da esquina. Mas não estava... e então a cada esquina era uma nova
frustração.
-O
que você considera felicidade?- quis saber o homem, enquanto colocava um bule
sobre as brasas. O viajante ficou pensando um bom tempo.
Em
realidade não sabia a resposta. Nunca tinha pensado em definir a felicidade. O
que o faria feliz? Dinheiro? Muitas mulheres? Mando sobre outros? Poder?
Inteligência superior? Família?
-Bem,
várias coisas...- disse, meio em dúvida.
-E
qual seria a primeira?- perguntou o homem, enquanto colocava umas ervas dentro
da chaleira. Um cheiro maravilhoso espalhou-se no ar.
O
viajante pensou um pouco.
-Família.
Quero uma família... o resto vem depois.
O homem retirou o chá e o despejou em
duas xícaras de metal. Estendendo uma para o viajante, perguntou.
-O
que é mais importante desse... resto?
Beberam
o chá em silêncio. Finalmente, o viajante respondeu.
-Dinheiro.
Quero estar tranquilo materialmente.
-Então
siga por ai- disse o homem, mostrando o primeiro caminho à direita. Quando
chegar ao próximo entroncamento, pegue a segunda saída à direita.
-Como
é que você sabe disso?- disse o viajante, surpreso. O homem sorriu.
-Digamos
que conheço bem estes caminhos. Já os percorri muitas vezes...
O
viajante ficou um tempo olhando para o caminho. Então surgiu uma dúvida.
-E
se quisesse ter dinheiro e poder?
-Tome
esse outro caminho- disse o homem, mostrando outra estrada. O dinheiro vai
levar você ao poder. Só siga reto e não repare em nada. Não pare nunca nem se
distraia nos entroncamentos. E antes que pergunte, você vai saber qual caminho
escolher porque estará sempre à sua frente... desde que você não fique
distraído com outros pensamentos.
Outro
longo silêncio. Agora o viajante tinha dois caminhos para escolher.
-Não
precisa decidir agora- disse o homem, adivinhando sua dúvida Vai descansar.
Amanhã você decide...
O
viajante pegou suas coisas e se acomodou perto do fogo. Daí a pouco estava
dormido.
Quando
acordou, o homem estava frente à fogueira, preparando o café da manhã. O
viajante se aproximou ao fogo. Dividiram os restos de pão que o viajante ainda
tinha e um chá quente maravilhoso que restaurou suas forças.
-Você
já pensou que caminho vai tomar?- quis saber o homem. O viajante assentiu.
-Acho
que vou pelo caminho da família. Mais para frente vou me preocupar com o
dinheiro.
O
homem balançou a cabeça afirmativamente.
De
repente, o viajante viu o que pareciam novos caminhos que saiam do
entroncamento. Não lembrava tê-los visto
na tarde anterior.
-E
esses caminhos?- perguntou surpreso.
-Ah,
você os está vendo agora- sorriu o homem. Levam a outras possibilidades. Esse ai
mistura amor com realização, esse poder com sabedoria...
-Como
é que não os vi ontem?
-Hoje
você está mais atento. Só isso. Quando você se acalma e começa a prestar
atenção, o caminho certo aparece à sua frente.
O
viajante observou os novos caminhos.
-Qual
a diferença entre o que eu quero tomar e esse do amor com realização material?
-Boa
pergunta- disse o homem, sorrindo. No caminho que você escolheu o amor vem
primeiro e depois de solidificado você começa a construir seu sucesso material.
Nesse ai as duas coisas acontecem ao mesmo tempo. Demora um pouco mais e você
não pode se distrair, senão perde o caminho, mas é uma boa alternativa.
-Você
parece conhecer muito bem esses caminhos...- disse o viajante, curioso.
-Já
os transitei muitas vezes- respondeu o homem, sorrindo. Agora sei aonde vão e
as viagens ficam mais fáceis...
O
sol começava a aquecer e uma suave brisa soprava.
-Acho
que está na hora de você ir- disse o homem-. Antes que o clima fique muito
quente.
-Acho
que vou por esse caminho do Amor com sucesso material. Gostei da idéia...
-Boa
viagem, meu amigo. Se ficar você ficar perdido em algum entroncamento basta
ouvir sua voz interior. Siga sua intuição.
O viajante pegou sua mochila.
-Obrigado
por tudo. Realmente não sei como te agradecer...
-Fico
feliz por ter podido te ajudar- disse o homem, sorridente.
O
viajante ficou parado um momento. Então sentiu uma súbita curiosidade.
-Quem
é você? Como sabe tanto dos caminhos?
-Sou
um viajante igual a você, só que com mais experiência. Percorri esses caminhos
muitas vezes, já fiquei perdido, já me resgataram. Hoje me dedico a ajudar
àqueles que ficam desorientados, como você. Só isso...
-Obrigado-
disse o viajante, sorrindo por primeira vez. Espero que a gente volte a se
encontrar...
-Se
esse for o desígnio, nossos caminhos vão se cruzar novamente, não se preocupe.
Boa caminhada, Viajante.
O
homem se inclinou respeitosamente e o Viajante fez o mesmo. Depois virou as
costas e enveredou pelo caminho escolhido.
Quando
já tinha percorrido certa distância, voltou olhar para trás. O entroncamento
estava deserto, o homem tinha desaparecido.
-Quem
era?- perguntou-se o Viajante. Era um homem realmente?
E
isso era importante? Homem ou anjo... um amigo enviado na hora certa.
Continuou
a caminhar pela estrada da vida, mais feliz.
E
foi se acostumando com a felicidade. Nos entroncamentos seguia sua intuição,
tal como o homem tinha ensinado. Nunca errou. Chegou ao seu destino, casou-se,
teve filhos, fez dinheiro.
Um dia estava fazendo uma peregrinação
para um lugar sagrado e parou num entroncamento. Acendeu um fogo para se
aquecer, a noite estava ficando fria. Então viu um rapaz que chegava por um
caminho lateral, cansado. O Viajante poderia ter ficado invisível, mas não tinha
necessidade disso. Fez um sinal e o fogo ardeu com mais força.
O
rapaz aproximou-se, indeciso.
-Desculpe,
o senhor poderia me ajudar? Acho que estou perdido...
O
Viajante fez um sinal para ele se aproximar.
-Sente-se
junto ao fogo, meu amigo. A noite está fria.
O
rapaz fez isso rapidinho. Realmente tinha esfriado muito.
-Você
está com fome? Estou preparando uma sopa- disse o viajante.
O
rapaz disse que sim. Estava faminto e fazia tempo que não parava para conversar
com um amigo. E na noite fria, amigos são como fogueiras: aquecem e guiam...
Jantaram
em silêncio. Ao terminar, o Viajante olhou para ele.
-A
viagem está difícil?- perguntou com um sorriso.
-Sim,
parece que nunca acaba...- disse o jovem, tristemente.
-Para
onde você está indo?
A
Roda da Vida deu uma volta completa..."